Confraria de Santo António e Irmandade de Nª. Srª. da Conceição

Escola Primária – Obra emblemática dirigida pela Irmandade de Vila Verde.
Os habitantes de Vila Verde sempre tiveram fama de possuir fraca capacidade associativa. Efetivamente, em toda a história conhecida da nossa aldeia, não há memória de alguém ter tomado a iniciativa de organizar qualquer associação que tivesse engrandecido o nome da aldeia, nas vertentes desportiva ou cultural. Pequenas localidades vizinhas, com meios bem mais escassos que os nossos, tiveram grupos desportivos, bandas musicais e até grupos de teatro. Por cá, só a espaços e quando era premente acudir a alguma necessidade urgente, os habitantes se organizavam em comissões de melhoramentos que, uma vez concretizadas as obras que as originavam, acabavam por desaparecer.

Algumas honrosas exceções existiram, porém, entre os séculos XVII e XX. As mais importantes foram a Confraria de Santo António que originou a Irmandade de Nª Srª da Conceição e o Centro de Instrução e Recreio de Vila Verde. A história deste último, que deu origem ao Centro Cultural e Recreativo, está já descrita no capítulo a ele dedicado, nesta mesma página. Debrucemo-nos, por isso, sobre a interessante história da nossa Irmandade.

De acordo com a descrição que o pároco de Tourais fez nas Memórias Paroquiais, na resposta ao inquérito ordenado pelo Marquês de Pombal, em 1758, Vila Verde, com 114 pessoas, «…está situada em campo com Capela de Santo António e confraria legal…». A Confraria de Santo António, de cuja atividade não possuímos quaisquer registos, ocupar-se-ia, logicamente, dos assuntos religiosos da comunidade e terá sido o primeiro movimento associativo da terra. É fácil imaginar que, com o aumento demográfico que Vila Verde conheceu durante o resto do século XVIII e sobretudo a partir de meados do século XIX, também a confraria aumentou, na mesma proporção o número dos seus membros. Em pleno século XX, mais exatamente em 10 de outubro de 1927, a confraria setecentista passou a chamar-se Confraria de Santo António, sob a invocação de Nª Srª da Conceição. A partir desta data, de acordo com a descrição da ata da assembleia geral da instituição, o nome passaria a ser mais conhecido por Irmandade de Nª. Srª. da Conceição, ou simplesmente por Irmandade de Vila Verde.

Fonatários públicos – Exploração e distribuição de água sob a direção da Irmandade

A Irmandade conhecia nesta data o seu apogeu. De acordo com os registos que, felizmente, temos à nossa disposição – livros de atas e outra documentação à guarda no arquivo da Associação de Desenvolvimento Samarreiros de Vila Verde – o número de irmãos atingia, em 1930, a impressionante cifra de 270, o que demonstra a saúde financeira dos negociantes e industriais vilaverdenses, nesse período que antecedeu a grande crise económica que viria a atingir a Europa pouco depois, contagiada pelo início da depressão americana iniciada em 1929.

Os habitantes de Vila Verde, incapazes de se entender para se organizarem em qualquer associação para a defesa dos interesses da terra, apoiaram-se na sua Irmandade, única instituição que se fazia respeitar, para, além dos assuntos de caráter religioso, se ocupar também de funções normalmente atribuídas às comissões de melhoramentos. Foi assim que, entre outras realizações, a irmandade liderou o processo da instalação e construção da escola primária, inaugurada em 7 de outubro de 1931 e também, pouco depois, a vinda e instalação da energia elétrica para a aldeia e a exploração de água para consumo público.

Até finais da década de sessenta do século XX a Irmandade de Vila Verde teve a fama de ser a maior de todo o concelho de Seia, mas com o modernizar dos tempos e das vontades, a instituição começou a perder importância. Os irmãos já não compareciam, como antes, às cerimónias religiosas; também não pagavam as suas cotas nem as multas por falta de comparência aos funerais e procissões nas duas festas anuais, uma em honra da irmandade, conhecida por Festa dos Irmãos e outra em honra de Nª Srª das Febres (a invocação antiga de Santo António, em Vila Verde, passou, também em 1927, para Nª Srª das Febres, que se tornou, desde aí, a padroeira da terra).

Rede elétrica – Instalada em Vila Verde em 1935 com ajuda da população após peditório conduzido pela irmandade.

Foi com muita pena que em 1995, porque a situação se tornou insustentável, a direção da irmandade decidiu suspender as atividades da instituição, acabando com ela e também coma a festa anual que se realizava no segundo domingo de outubro de cada ano.

Pela razão de que, na altura da sua suspensão, a irmandade já tinha há muito deixado de funcionar como comissão de melhoramentos, pensamos que ela terá acabado, mais por uma crise de valores do que devido a uma crise económica, já que, em 1995 não se vivia uma situação como a que viria, passados 15 anos, a desmobilizar, no seio da sociedade civil portuguesa, o associativismo.

No ano de 2010, a direção da Associação de Desenvolvimento Samarreiros de Vila Verde, em visita ao Senhor Bispo da Guarda, foi por ele informada de que a irmandade não fora extinta. Isso só teria acontecido se o senhor Bispo decretasse a sua extinção. Porque esse ato não foi então solicitado, a confraria continua apenas suspensa. Estamos convencidos de que, se alguém se disponibilizar a reativar a irmandade, forçosamente em moldes diferentes dos da sua fundação, no decorrer do século XVIII, terá essa ideia pernas para andar.